Terroeiro acima
Serra da Estrela tem imensos percursos pedestres, curtos e longos, fáceis e difíceis em que alguns exige uma maior preparação tanto física como de resistência à adversidade que pode surgir tal como as condições climatéricas, os desníveis, a altitude, os obstáculos físicos, contudo há uma certeza, é tudo deslumbrante, é tudo motivo para sentirmos a adrenalina a comandar as emoções.
Quando subimos a Serra da Estrela de carro, na zona entre o túnel e a Santa temos a sensação que vamos subir para o céu, deixamos de ver montanha e apenas se vê estrada e céu, mas à medida que continuamos e olhamos para a esquerda vemos o Terroeiro e a cumeada por cima da barragem do Padre Alfredo que dá até à zona da Torre. É magnifico o que se vê!
As escarpas desta cumeada que se vislumbram da estrada são majestosas e tentadoras, aclamam pela aventura e fizemos-lhes a vontade, fomos lá.
Objectivo: Subida ao Terroeiro
Tempo: 6 Horas / difícil
Estávamos no Outono, tempo ameno, perfeito para esta árdua caminhada, deixámos o carro no Covão da mulher mesmo no sopé da Barragem do Padre Alfredo que abastece Unhais da Serra, seguimos por marcações sempre a pique até à linha de água, à medida que subimos sentimos cansaço e as pernas teimam em descansar porém as paisagens vão surgindo a toda a nossa volta e o cansaço é dominado pelo deslumbre do que vemos, algumas coisas vão-se tornando pequenas e outras agigantam-se.
Antes de encontrarmos a linha de água somos surpreendidos por duas amigas de peso, estão bem tratadas, comem bom pasto e olham para nós como se se questionassem porque lhes invadimos o espaço, sentimos que são nossas cúmplices e continuamos a subir até chegarmos a uma bifurcação, para a direita a Torre, para a esquerda o Terroeiro.
Esta zona é ligeiramente mais plana e ajuda-nos a relaxar os músculos, ao mesmo tempo sentimos que chegámos a uma zona em que já não somos visíveis por ninguém aquele espaço passa a ser nosso e tentamos aproveitá-lo ao máximo sentindo os aromas, a relva, os arbustos, subimos rochas, sentimos a sua rugosidade. Voltámos ao percurso e atingimos o Terroeiro no seu marco geodésico.
A paragem neste lugar é obrigatória por várias razões, pela magnitude, pela reposição de energias e acima de tudo pelo deslumbre do que a nossa vista atinge.
A descrição do que se vê é vasta, se para o lado direito vemos o Alto de S. Jorge na cumeada que dá para a portela de Alvoco da Serra, para o lado esquerdo vemos a cumeada que nos leva à Varanda dos Pastores com as Moreias a escorregar para o vale de Unhais da Serra.
No horizonte conseguimos ainda ver algumas aldeias e vilas, Paúl, Erada, Ourondinho entre outras e numa distância mais ousada ainda vemos a zona da barragem de Sta. Lúzia, muito mais se vê assim como ar puro e fresquinho se inspira e expira, é por estas que vale a pena o esforço da subida, faz-nos ficar mais felizes, únicos, radiantes e leves da carga pesada que vamos tendo na correria do nosso quotidiano.
Há que pôr a mochila às costas e deixar o Terroeiro voltando pelo mesmo trajecto mas agora na direção da Torre contudo como este não é o nosso objectivo derivamos para a direita em direção aos corredores da cumeada que se encontram por cima da barragem do Padre Alfredo, a grande diferença do que se vê da estrada é que agora são uns desfiladeiros gigantes e quando chegamos à beira temos a sensação que somos sugados pelo ar frio e imponente que vem deste vale devido à sua altitude, estes corredores na vertical são de uma imponência e grandeza que nos provoca uma felicidade extrema de estarmos ali.
Avançamos pelo trilho sempre ao redor dos precipícios até chegarmos a um relvão rodeado de rochedos altos e imponentes, é plano, totalmente coberto por relva e com uma pequena linha de água, paramos por uns instantes mas atravessamos em seguida e mal passamos as rochas surge outro relvão idêntico, ambos com imensos vestígios da passagem fresca e bem marcada pelos rebanhos de ovelhas, dando a sensação que servirão de bardo.
Seguimos na direção da casa do Ski de Portugal, infelizmente abandonada mas de uma arquitectura digna de se observar, iniciamos uma descida ao lado duma linha de água fresca e cristalina e saímos na estrada junto à Santa.
Estando na Santa e fazendo o transbordo do alcatrão para o percurso final, andamos cerca de 200 metros e entramos à direita no Trilho do Major, composto uma grande parte por pedras tornando-se bastante irregular mas quase nem nos lembramos desse pormenor, a paisagem vista daqui é soberba, acompanhamos sempre ao lado do vale e da barragem, estamos numa altitude considerável em que tudo lá em baixo parece miniatura, olhando em frente voltamos a ver as moreias com aspecto escorregadio mas sabemos que estão intactas, a sua cor de chumbo mistura-se no verde dos arbustos e com o granito das rochas, o vale para Unhais dá a sensação que se fossemos levitados a partir dali iriamos entrar num mundo surreal.
A descida pelo trilho é exaustiva ao mesmo tempo emocionante, o calor já apertava, estávamos no pico do sol e o que tínhamos feito para trás já nos pesava de alguma forma mas verdade se diga e o confessamos, aquela descida até ao Vale da Mulher foi alucinante e mais uma vez nos sentíamos poderosos. Fica o desafio para quem se atrever, venham, nós vamos outra vez.
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Atividade realizada em Outubro 2019