Rota do Javali
Na Serra da Estrela há lugares emblemáticos, lá isso é verdade, porém à medida que vamos descobrindo outros, percebemos a grande diversidade que ela nos oferece e se achávamos que só na zona das rochas os nossos olhos e mente se regalavam então andávamos iludidos e bem.
Ainda pensámos que talvez dessemos de frente com os javalis mas devem ter achado que eram demasiado poderosos e belos para nós pelo que não apareceram, porém não temos a menor dúvida que tinham acabado mesmo de ali andar, a terra parecia ainda mexer de tão alvoraçada pelas suas fuças.
Objetivo: Rota do Javali
Altitude: Entre 720 e 1306 m
Tempo: 5 H.
Distância: 11 Kms circular
Dificuldade: Médio
Na verdade não íamos em busca de javalis apenas quisemos desfrutar da beleza circundante numa das magnificas encostas de Manteigas, onde o contacto com a natureza nos carrega de felicidade e de uma leveza que tudo se esquece neste ambiente, somos uma espécie de simbiose, nós e a natureza, nada mais.
Partimos do Bairro de Santo António, iniciámos a subida numa rua de paralelos ladeada de várias habitações, assim que passamos pela última casa temos a indicação das placas para Vale da Amoreira e Poço do Inferno a 5,3 Kms, seguimos o estradão ladeado de floresta que nesta fase Outonal é composto de folhas secas dando um tom harmonioso ao ambiente.
Chegamos a um cruzamento que seguindo em frente tem o acesso para o Vale da Amoreira, derivámos à direita no sentido do Poço do Inferno, iniciámos subida, vamos deitando o olho, pelos intervalos dos castanheiros, para a Vila de Manteigas que vista daqui lhe dá uma perspetiva de presépio.
Continuamos em estradão que nos conduz cada vez mais numa floresta densa, concentrada, os elementos que a fundem são imensos, o desnível das encostas inquieta o nosso raciocionio, o tapete de folhedo aos nossos pés proporciona o único som que se ouve, por vezes paramos, sentimos o silêncio, sorvemos toda aquela grandeza da natureza e acabamos por ficar absortos dentro daqueles cenários majestosos.
Prosseguimos com o som que fazemos com as folhas do chão, mas de vez em quando ouvimos outro som, o da água a escorrer por entre umas pedras e musgo, vemos raízes grossas de pinheiros que por algum motivo metereológico ficaram a nú, mas vigorantes, tanto que estes caminhos nos oferecem.
Voltamos a derivar à direita, mantendo-nos em estradão, passamos pela casa do Guarda Florestal, lugar agora abandonado, porém apetecível aos dias atuais, talvez lhe daremos o valor que deixou de lhe ser reconhecido.
Voltamos a derivar e a placa informa-nos que temos o Poço do Inferno a 1 Km, porém até chegarmos à estrada temos de serpentear o resto da encosta que a cada nível alcançado nos impressionamos com o emergir do monte que temos por trás de nós, é tão gigante, é tão imponente, gordo, farto, intrigante.
Depois de todos os ziguezagues feitos e a precisar de restabelecer a respiração já que a subida foi íngreme, pisamos o alcatrão por 600 metros até chegarmos ao encantador Poço do Inferno, que, se de facto fizesse jus ao nome não poderia ter tanta beleza concentrada, este lugar bastava-lhe ter a cascata a jorrar dos seus 10 metros porém tudo o que tem à sua volta é de um belo muito especial.
A partir daqui, e seguindo a rota que trazíamos, ligeiramente antes do Poço está a entrada para a continuação do trilho, contudo, já que estávamos ali, foi-nos irresístivel não fazer a Rota do Poço do Inferno, na chegada desta demos continuidade à do Javali.
Depois de termos atravessado a Ribeira de Leandres que abastece a cascata e termos atravessado a encosta das rochas Corneanas, apanhámos a continuação do trilho do Javali a 5 Kms para Manteigas que nos encaminhou pelo abastado e íngreme monte à direita do Poço do Inferno, é certo que vínhamos regalados com a pequena rota que tínhamos acabado de fazer mas as vistas daqui mantiveram-se na mesma fasquia, o Vale do Zêzere olhava para nós como que a pedir que abríssemos as asas e o percorrêssemos, decerto não sabe que somos humanos.
Esta subida tem alguma dificuldade em termos de resistência mas a cada pequena paragem se esvanece qualquer cansaço com as paisagens que vamos apreciando a níveis cada vez mais altos, o trilho contínua bem marcado e antes de chegar ao cume derivamos à esquerda ao encontro dum estradão cuja saída não existe mas a ideia é percorrer no sentido contrário e verdade se diga que apesar do mato a toda a volta nos soube bem aquele berço, é que já íamos tão satisfeitos com o que tínhamos visto.
No final deste estradão derivamos para outro na sua continuação à direita e pouco a seguir encontramos uma estreita estrada de alcatrão que percorremos por 100 metros, surge uma placa a indicar Manteigas à esquerda e a partir daqui por mais 3 Kms seguimos por um trilho tipo duma calçada que nos leva de novo a zona de castanheiros voltando a apanhar o famoso tapete de folhedo.
No final deste tapete castanho alaranjado chegamos à estrada do Poço do Inferno, uns metros à frente, derivamos à direita que nos levará ao ponto de partida.
É uma rota desafiante em vários sentidos, tem subidas bastante íngremes mas com calma se fazem bem, diga-se que a cada etapa ultrapassada nem sentimos cansaço mas sim vigorados perante tantos encantos, tem uma grande diversidade de elementos e se for complementada com a Rota do Poço do Inferno sentimos que o tempo dispendido se traduziu em grande felicidade.
Voltamos para lhe fazer companhia, ao dispor: discoveryemotions@gmail.com