Amieira do Tejo - Trilho das Jans
Não há valor físico que pague a transformação de tristeza para alegria verdadeiramente sentida. O contato com a natureza, sentir os pés a calcar a terra, o ar fresco pelo rosto, ouvir o silêncio do universo, a emoção da beleza apanhada pelo campo de visão, os aromas florais naturais, são o ramalhete completo para nos transformar, mudar o menos bom para o bom e muito bom. Só percebemos isto quando percorremos um trilho, não há forma de o fazer sentir sem o sentir pelo que o melhor é ir e fazer.
Objetivo: Trilho das Jans / Amieira do Tejo
Altitude: 230 máx
Tempo: 3H30m
Distância: 12,6 Kms circular
Dificuldade: Média
O Trilho inicia junto ao Castelo da Amieira do Tejo, a sinalização é muito boa o que permite apenas ir e sem nos preocuparmos com qualquer tecnologia. Seguimos por uma das ruas da Amieira do Tejo digna da nossa perceção pelo património arquitetónico com edifícios encantadores da época Seiscentista. Finda esta rua transporta-nos para a zona mais rural da zona, e aqui pode-se seguir à direita para Vila flor o que eleva esta atividade para mais uns seis Kms.
Não seguindo por Vila Flor, o trilho continua por um caminho rural ladeado de muros em pedra, há diversas explorações agrícolas com animais de grande porte ainda assim têm vedação o que não oferece qualquer perigo e ainda nos presenteia a vista com a presença de belíssimas espécies.
Na primeira fase o trilho é feito pelo caminho rural, tanto a fauna como a flora são ricas ainda assim o sobreiro destaca-se assim como os vestígios do Javali ou da Garça Real. Uma grande parte do percurso avistamos ao fundo o rio Tejo e a Barragem do Fratel terminando numa descida abrupta ao encontro dos passadiços de Nisa. Esta descida inicia com escalões em madeira não homogéneos deixando de haver a partir da zona com maior declive o que é necessário alguma precaução na forma como são colocados os pés, se possível na lateral.
Chegados aos Passadiços, para nós particularmente, a zona menos interessante, mas pela paisagem e elementos da natureza vale sempre estar lá pelo que usámo-los com o intuito de ir ao miradouro da Foz da Ribeira do Figueiró e ao Sky walk (miradouro transparente) 200 metros a seguir.
Na verdade o que mais nos moveu a cortar à direita e inevitavelmente fazer uns metros de passadiços, foi sem dúvida a emoção de atravessar a ponte suspensa sob a ribeira do Figueiró.
Avistámos uns baloiços que nos constou serem bastante atrativos ao público em geral, no entanto não são propriamente o nosso forte pelo que após os miradouros regressámos novamente à zona da grande descida para continuarmos o trajeto.
O trilho leva-nos para a zona mais encantadora desta experiência, por cerca de 3 kms seguimos pelo muro de Sirga, nome este referindo-se ao grosso cabo de sisal, na margem do rio Tejo que outrora teria servido de tração por meio de animais e pessoas às embarcações o que nos leva a crer que foi palco de trabalho árduo e sofrimento. Sobre o muro, a caminhada funde-se numa mistura de emoção e beleza, os reflexos das rochas e vegetação sobre o rio, a ponte ferroviária que serve a Foz do Rio Ocreza, as comunidades da Garça Real e o pensamento para a vida que aquele muro que hoje pisamos em lazer fora de tanto esforço, trabalho difícil noutros tempos por pessoas como nós. Humanos.
Estamos a meio do percurso total e ao longo do muro de Sirga, para lá da beleza natural, encontramos figuras da natureza retratadas em materiais modernos e em grande formato com a devida legenda, apesar de não ser natural, tornam-se agradáveis de observar, começando pela Raposa, Formiga, Garça Real, Ginete, imagem de um alpinista e de um índio apesar de não ser representativo da zona mas a rocha natural se pôs a jeito e ainda uma cascata de rochas naturais monocromática.
Chegamos a Barca D’Amieira onde encontramos uma pequena plataforma flutuante que serve para a travessia do rio onde se pode apanhar o comboio no apeadeiro (Comboio Regional), havendo ainda uma zona verde lazer, mesas de apoio e um pequeno bar, a paragem é, portanto, inevitável para um pequeno repouso retemperador de energias.
Encontramo-nos em estrada de alcatrão por uns metros fazendo uma pequena subida e imediatamente à direita entramos numa herdade privada mas com acesso legal ao trilho. Pouco após passarmos a moradia em pedra temos uma subida a pique mas que nos acalenta com a sombra dos altos sobreiros que a ladeiam.
Visto estarmos numa zona privada encontramos algumas indicações da proibição de recolha de cogumelos e espargos selvagens o que é legitimo.
Na saída convém estarmos atentos e fechar o portão, cujo estradão nos leva de novo ao alcatrão e este nos leva à entrada da Amieira do Tejo, logo de seguida ao Castelo, local anteriormente de partida e caso ainda esteja de portas abertas é oportuno visitar, caso esteja fechado para pausa de almoço, reabre às 14:30h., entretanto convém andar pelas ruas, fazer uns bons registos aos ângulos, às cores, à beleza num todo que é característico a esta bela freguesia.
Para que esta aventura se torne mais completa seguimos para Nisa, afamada pelas belas peças de barro empedradas bastante cativantes mas há muito mais, tanto nas artes manuais como na gastronomia tem muito que ver, provar e sentir. Com edifícios de arquitetura atraente, predominando o azul forte e o amarelo e uma belíssima calçada bordada imitando o barro pedrado de desenhos florais artísticos.
E com tão pouco nos sentimos felizes, a nossa sugestão é irem e aventurarem-se como nós fizemos, se precisarem de nós, contactem-nos.
Ainda acerca do Trilho das Jans, questionámo-nos sobre o nome que mereceu a nossa atenção à informação encontrada ao longo do percurso num painel informativo e que diz o seguinte a este respeito:
“Conta uma Lenda da região que a Barca da Amieira terá transportado o corpo da Infanta Aragonesa que casou com D. Dinis, mais tarde canonizada e conhecida como a Rainha Santa isabel.
Falecida em Estremoz e sepultada em Coimbra, esta foi conduzida pelo caminho que ia desde Amieira até à margem do Tejo, trajando um vestido de linho tecido pelas Jans, nome dado às mulheres invisíveis que fiavam um linho muito fino e sem nós, que não se acreditava poder ser trabalhado por mãos humanas.
Segundo a lenda das Jans, quem quisesse uma peça tecida por estas fadas, teria de deixar de noite um bolo de farinha de trigo a cozer ou a assar na lareira e junto dele um novelo de linho. Terminando o trabalho, estas despareciam misteriosamente, levando consigo o petisco.”