A Garganta de cascatas do Ocreza
Sempre ouvimos burburinhos sobre a mística Serra da Gardunha, palco de segredos e mistérios inexplicáveis através de histórias mal ou bem contadas relatam fenómenos que nos aguçam a curiosidade.
Ainda assim, para além de toda a mística que a compõe e da fama não se livra, algo é certo, os elementos que a compõem são de facto místicos, selvagens, de uma beleza e natureza ímpares, pelo que já não me admira que depois de por lá ter passado ficar na dúvida se não teria tido contacto com algo de outro mundo, coisa que não me espantava nada de tão mágico que é andar por lá.
A Serra da Gardunha faz de divisão entre o distrito de Castelo Branco e a Cova da Beira. De olhos postos na majestosa Serra da Estrela tem a seus pés a cidade do Fundão, do lado oposto tem outro tipo de vida.
Objetivo: Trilho das Cascatas do Ocreza
Distância: 7 Kms_Circular
Dificuldade: Moderado
Tempo: Mínimo 2:30h._o ideal um dia inteiro
Vindo pela A23, tanto pelo Norte como pelo Sul, saímos para a N18 na direção de Louriçal do Campo, na chegada apreciamos o magistral Colégio de S. Fiel, infelizmente consumido pelas chamas de 2017 ainda assim o edifício é de uma grande imponência não deixando qualquer olhar alheio. Atravessamos Louriçal seguindo até à aldeia de Torre onde se pode estacionar num pequeno largo junto à capela. Aqui começa o trilho, a atividade pedestre que propomos.
Atravessamos Torre e chegando ao cimo da rua cortamos à direita, a partir daqui, começamos a preparar o coração mal vemos o ribeiro Ocreza.
Água límpida e cristalina corre num veio de Ribeiro, uns metros acima do lado esquerdo fomos desviados pela tentação de visitar uma cascata, ao chegarmos já podia ali parar o mundo tínhamos descoberto uma parte do paraíso, a água escorrega sobre um flanco de rocha que chega cá em baixo propiciando a uma piscina natural ladeada de vegetação fresca e pouco sóbria. Ainda haveríamos de ali passar no regresso pelo que voltámos ao trilho.
A paz e calmaria são predominantes, há uma elevada diversidade biológica e paisagística, Laranjeiras, Mimosas, Touças de Rosmaninho, Lajes, Rochas graníticas de grande porte, deixadas ali ao acaso, soltas, casas de pedra abandonadas, talvez por terem acesso só por via pedestre ainda assim há uma forte presença de casas recuperadas que são autênticos retiros.
Se o trilho se leva ao inicio de forma bastante leve, com boas marcas de passagem, sombras de mimosas e eucaliptos, antecipa-se uma subida de grande inclinação, talvez tenhamos de abrandar o ritmo mas sem deixar de ser um ambiente magnificente com a envolvência da flora, a Esteva predomina e o Eucalipto tem uma forte presença além de máscula presenteia-nos com um aroma de frescura que nos leva a respirar bem fundo sem darmos conta.
Quase no final da grande subida encontramos um portão que faz parte dos serviços florestais de outrora, são três casas que serviram de base a guardas e responsáveis pelas águas, à frente tem um muro em granito que é um perfeito balcão para uma refeição ou um mero descanso. As vistas são soberbas.
O silêncio é abundante. A paisagem é majestosa, estamos num dos pontos mais altos, do lado direito temos a aldeia de Casal da Serra, abaixo desta a aldeia de Torre, do lado esquerdo vemos Louriçal do Campo, de frente, em linha reta o imponente lago da Marateca com os seus recortes ondulados e azuis.
Seguimos por um estradão em base de blocos graníticos devidamente preparada para a passagem dos serviços de água e florestais e após aquela pequena subida chegamos aos subúrbios de Casal da Serra.
Aldeia pequena e pacata totalmente em zona de serra mas com semblante aberto, amplo e de boa exposição solarenga, estima-se que é aqui, apesar de lugar indefinido, na zona de Casal da Serra que estará a nascente do Ocreza, diversas veias afluem que aqui ainda é Ribeiro mas após a viagem da derradeira descida passa a Rio indo a desaguar ao Tejo 64 kms depois de ter nascido.
Se sentimos que até aqui tínhamos passado por lugares belíssimos e inspiradores, não estávamos de todo enganados porém a descida revela-se encantadora parecendo incrédulo assistir a uma beleza tão rara, natureza no seu esplendor com o Ocreza a galgar os rochedos que apanha pelo caminho, abre-se uma garganta adamastor jorrando água com toda a sua força rocha em rocha e por cada queda faz pequenas piscinas convidativas ao banho.
De águas cristalinas e frescas, o som a bater no granito é arrebatador, ladeamos esta garganta acompanhando as suas entranhas no seu esplendor, quanta loucura e pasmo sentimos do lugar selvagem onde andamos, daqueles lugares que nos torna únicos e nos proporciona verdadeiros momentos de felicidade.
As cascatas são imensas, escorrem por ali abaixo até acalmarem quando chegam à entrada da aldeia de Torre permitindo ainda observarmos diversos moinhos de água, vários vestígios de mós que ali perduram ao longo do tempo.
Se este percurso de apenas 7 Kms é desta forma, ansiamos por fazer em breve o PR1_Rota da Gardunha de 17,4 Kms.
O trilho não está devidamente marcado, o que se sugere descarregar antes de o fazer, caso não queira essa tarefa estamos disponíveis para qualquer orientação necessária.
Que dia tão feliz este, na melhor companhia a quem agradecemos de coração, tão bem que nos fez acompanharem-nos: Eu, meu Marido, Meu Pai e os Amigos Dolores e José Silva.